Tucha

01 de julho, 2014
      Em Janeiro de 1999, com dois mesinhos de idade, abrindo mal os olhos e cabendo-me na palma da mão, foi-me oferecido o melhor presente de aniversário da minha vida, uma cadelinha muito traquina que vinha dentro de uma caixa de um scanner, de pelugem preta e branca, com um enorme laço cor-de-rosa maior que ela própria. Juntamente com ela vinha uma carta, igualmente, cor-de-rosa com uma assinatura da patinha a tinta azul bebé. Foi presente de cinco madrinhas que a recolheram da União Zoófila.

Tucha foi o nome escolhido por ser uma bonequinha morena.

A partir desse momento mágico, a “ratinha” que desaparecia debaixo dos móveis e sofás passou a ser um membro da família, com o compromisso de honra de que se tornaria numa cadela feliz, cheia de mimo e que nunca, mas nunca... nada lhe iria faltar.

Foi crescendo sempre muito rebelde (com dois meses atacou à mordidela o funcionário de uma petshop quando lhe tentava experimentar um peitoral – parecia uma piranha enraivecida... loool), completamente tresloucada e sempre muito mimada e alegre. Passei muitas noites a embalar a bebé que chorava assustada e saudosa da mãe e que só adormecia quentinha, ao colo, a escutar o meu coração. Roeu móveis, rodapés, fios da arca frigorífica, encostou o focinho à tomada por duas vezes e tivémos de tapar as tomadas da casa inteira, passou-lhe um pneu de um carro por cima da barriga e saiu sem lesões...enfim! Uma cadela diabólica que chegava ao ponto de saltar através da janela para o colo dos condutores por ela conhecidos (com o carro em andamento) quando os via a chegar ao largo da rua onde morávamos.



No campo corria tanto até ficar com o “fiambre” (língua) de fora, chegando, muitas das vezes, a esfolar as almofadas das patinhas. Adorava saltar obstáculos, subir às árvores e passear de carro (apreciar a paisagem, sentir o vento e observar outros cães).

Na praia (corria de um lado ao outro da praia) para cumprimentar e convidar para a brincadeira todos os cães da praia. Adorava mergulhar nas ondas do mar com o pretexto de querer apanhar pedras que lhe eram atiradas.

Muito defensora dos seus donos e muito ciumenta, não consentia que qualquer um de nós fosse carinhoso para com outro cão, senão atacava-o por ciúmes. Se ao chegarmos a casa, sentisse o odor a outros canídeos... cheirava-nos, ficava sentida e amuava.
Passou a vida de colo em colo e de casa em casa, participou em todas as cerimónias da família (álbuns de casamento, benção das fitas da FDL, aniversários). Fez sempre férias com os donos, até de autocaravana viajou por Portugal. Sempre muito cheirosa e muito Senhora do seu focinho, teve sempre presentes de aniversário e de Natal. De dentinhos sempre muito bem lavados, com gotinhas de limão, preservou sempre as suas dentuças e nunca teve uma cárie.
Sempre foi tapada para dormir e não ter frio e em cada aconchego suspirava profundamente de satisfação.

Sempre muito saudável, com um coração e rins fortes, a nossa toura, vaquinha ou mula conforme a iamos chamando...foi envelhecendo...e aos 15 anos (Novembro de 2013) começaram, aos poucos, as patinhas a fraquejarem, os olhinhos com cada vez mais cataratas... uma dor de alma, ver a nossa filhota a envelhecer...mesmo assim nunca lhe faltaram cuidados e mimos.

É ingrato pensar que se fosse humana, a nossa menina estaria na força da juventude mas que, sendo uma bicharoca, estaria já a exceder há longos anos a esperança média de vida para o seu porte.

Assim, faleceu aos 15 anos e sete meses (a 20 de Junho de 2014) de forma natural, deixando uma eterna dor e saudade na tua mamã, papá, avós, tio, primos e amigos. Tal como sucede com um Ser Humano, hoje foi dia de receber os pêsames de todos os teus amigos e familiares que acompanharam de perto a tua vitalidade, alegria e loucura e que agora choram pelo teu desaparecimento.

Amamos-te imenso, és a parte de nós que partiu. Sabemos que foste uma bicha sempre feliz, muito mimada e de forte personalidade. Missão cumprida!

Continuo a dizer... tinhas de ser minha! Só nós nos compreendemos, com qualidades e defeitos,  meu peluche vivo, minha confidente, minha Eterna Amiga!